quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Minhas palavras


Meu eu em você! O quarto estava em silêncio, mas ela podia ouvir, de dentro pra fora, de minuto em minuto, a porta bater com toda a força. Escuridão e luz. Os dias escapavam pela greta da janela, mas o eco dos gritos que ali foram desperdiçados, jamais se calaram de vez. Parou de chover. As lágrimas secaram toda a dor, e o vazio se instalou onde os sentimentos costumavam ficar.
Roupas no chão, copos no armário, gavetas abertas e um coração faltando pedaços. Toda aquela bagunça não fazia a menor importância. Ela se sentia suja mesmo depois de 100 banhos. Cada centímetro do seu corpo fedia arrependimento.

Estava realmente sozinha. Desde que se mudou para o apartamento, onde morava com ele, jamais deu notícias para a família. Uma época difícil pra todos. Final da adolescência, cabelos coloridos e um amor que duraria pra sempre. Ninguém entendia, só ele.

Final feliz? Não, desventuras em série. Um cara legal da faculdade apareceu e fez da certeza, uma possibilidade. Disse coisas engraçadas, e explicou a matéria de álgebra. Segurou sua mão sem querer na escada. E em uma festa solitária da turma do trabalho, apareceu por acaso. Bebida demais, pessoas também. Coração amassado e guardado no bolso do jeans. Quando abriu os olhos e caiu em si, estava com a boca na dele. Surpresa: Olha quem apareceu na porta.

Gritos, portas batendo, lágrimas, maquiagem borrada, chuva forte e então, a solidão. Volte ao começo desse texto e leia isso todos os dias, por quase um ano. Foi que ela fez por todo esse tempo. Relembrou e se lamentou.
Agora não a resta mais nada. Nem esperanças. Só um papel e uma caneta falhando. Escreveu no canto de uma folha com um desenho qualquer: “Todo dia 21 só me deixa um mês a mais longe de tudo que vivi com você.” Depois, com a folha na mão, subiu as escadas, e na cobertura, olhou para baixo e se imaginou caindo. Podia sentir o vento no seu rosto. Depois de tanto tempo longe de tudo, isso parecia a solução. Aquele era mesmo quase o fim, quando ouviu:

Jovem garota dos cabelos negros, vejo você todos os dias através do espelho. Estou aqui, em janela bem perto de você. Escute o que eu tenho pra dizer, não se sinta louca por isso. Ninguém consegue enxergar o que você sente. Isso é seu. Exclusivamente seu. E mesmo que não acreditem, essa é a única verdade que faz diferença no final.
Nunca importa apenas quem errou. Sofre mais, quem ama. Agora escuta e acredita: Quem ama também erra. Não se culpe pra sempre por aquilo. Antes de exigir o perdão, perdoe-se. Orgulhe-se pela coragem inoportuna. Poucas pessoas assumem. Faça o que tiver que fazer, sinta o que tiver que sentir. Feche as portas, se tranque em um quarto escuro e pense que a vida é um saco, mas nunca, nunca queira fechar os olhos antes da hora.
Estou bem aqui, vendo o que você vê, sentindo o que você sente.
Na sua alma. Nos seus olhos. Eu sou você.



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